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Publicado em 1958, ano da morte da autora, pela Portugália, Título Qualquer Serve de Irene Lisboa é uma das suas mais emblemáticas obras no que se refere ao grau de depuração da escrita e à hábil captação da fluidez do instante do fragmento. De estrutura aparentemente semelhante à que obedecem todas as suas outras obras, pautadas por narrativas curtas, Título Qualquer Serve tem contudo uma arquitectura circular marcada pela unidade temática e pela presença da mesma voz narrativa, o que completa um círculo perfeito entre o primeiro e o último texto revelando, curiosamente, durante esse percurso uma sucessão de acontecimentos passíveis de alterar a rota que posteriormente é retomada. Dona de uma escrita de estilo cursivo caracterizado por uma caligrafia rápida e miúda reveladora da variedade dos movimentos de consciência, Irene Lisboa conta- -nos a história (plena de grandes dramas subterrâneos) de uma mulher só, rodeada de elementos e personagens já conhecidos de outros livros da autora, como sejam, respectivamente: o riso interior, a mudança do ritmo lento do pensar para o da atenção à água que ferve, por exemplo, a porteira, o Evaristo e a Mulher, a Celestina, a sardinheira a florir de novo, etc. Mas sob esta ilusória semelhança esconde-se todo um outro recorte e tratamento das temáticas e sujeitos, o que não deixa de indiciar a modernidade estílistica da autora. Tal como afirma Paula Morão, prefaciadora e organizadora das obras de Irene Lisboa: «... o que se conta é uma história sem fim, não importa muito que se lhe encontre um título definitivo ou uma forma narrativa completa, longa, composta e una; por detrás da autodenegação, esconde-se ainda o tempo: nada está acabado, e no entanto tudo morreu lá atrás, num tempo longínquo e tão avassaladoramente próximo, impossível de sepultar.» Irene do Céu Vieira Lisboa nasceu a 25 de Dezembro de 1892 em Casal da Murzinheira - Arruda dos Vinhos e faleceu em Lisboa a 5 de Novembro de 1958. Formada pela Escola Normal Primária de Lisboa, já professora, fez estudos de especialização na Bélgica, em França e na Suiça, após os quais se tornou professora do Ensino Infantil e inspectora orientadora desse grau de ensino, até ser afastada, primeiro para funções burocráticas, e depois definitivamente, por recusar um lugar em Braga que era na prática, uma forma de exílio para uma pedagoga cujas ideias eram incómodas. Usou vários pseudónimos, entre os quais os de João Falco e desenvolveu uma intensa carreira literária. Da autora, a Editorial Presença tem já publicados, inseridos na colecção Obras de Irene Lisboa, os seguintes volumes: Poesia I - Um Dia e Outro Dia... Outono Havias de Vir; Solidão; Começa uma Vida; Voltar atrás para Quê?; Esta Cidade!; O Pouco e o Muito - Crónica Urbana; Crónicas da Serra e Apontamentos.
ISBN 9789722322751
Nº de Páginas 204
Data de Lançamento 6/1998
Dimensões 210x140 mm
Formato
Peso 254 g